Alcides Gomes da Cruz. Carioca, nasceu
em 15 de outubro de 1913, filho de Noêmia com o escriturário João Gomes da
Cruz. Teve uma única irmã, Yolanda e cresceram juntos envolvidos em um
agradável ambiente familiar.
Quando menino andava descalço pelos
campos das antigas fazendas de café de seus antepassados, em Andrade Costa,
distrito de Vassouras às margens do Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro.
Foi nesse ambiente que Alcides
conheceu e experimentou a simplicidade que levaria em sua essência para toda a
vida, nas brincadeiras com os primos nas fazendas de Vila Rica, Valdarno, Santa
Ignez, Água Santa, Cedro, Santa Helena, Cavaru, Catete e Pingo D’água. Mas foi
na cidade grande, no Rio de Janeiro, que Alcides desenvolveu sua arte. É como
pregavam os iluministas: o desenvolvimento intelectual ou cultural só seria
possível em centros urbanos envolto em um ambiente social. Aos 13 anos de idade
começou a pintar.
Iniciou seus estudos no Liceu de Artes
e Ofícios do Rio de Janeiro, foi aluno de Eurico Alves e tomou parte no Grupo
Colmeia dos Pintores na Quinta da Boa Vista, tendo aulas com Levino Fânzeres,
que muito lhe admirava. Frequentou a Antiga Escola Nacional de Belas Artes,
onde foi aluno de Henrique Cavalleiro, Carlos Oswald e Alfredo Galvão,
tornando-se desde então, pintor notável.
Alcides Cruz, além de artista nato,
era um pesquisador autêntico. Um estudioso da técnica da arte de pintar. Sua
arte não tem paralelo, sua produção artística era personalíssima e facilmente
reconhecida a um simples golpe de vista, mesmo que fossem destituídas em suas
telas, da sua rubrica. Seus trabalhos se bifurcavam entre o impressionismo e o
expressionismo e sempre apresentava telas originais, dotadas de uma paleta
peculiar, com pinceladas espalhadas com desenvoltura e toques enérgicos, com
nuances ricas de tons.
Conviveu no grupo do Café Gaúcho com
os companheiros Sylvio Pinto, Bustamante Sá, Pancetti, Chlau Deveza, Casemiro,
Solon Botelho e Manoel Faria, e também no “Porão”, do Museu Nacional de Belas
Artes, com um grupo de pintores, escultores e literários.
Era completamente apaixonado pela
pintura do artista plástico paulistano Benedito Calixto, por isso sempre optou
pelo gênero acadêmico. Ocupou na Academia Brasileira de Artes a Cadeira nº 2 do
Patrono Henrique Bernadelli.
Deixou um enorme acervo espalhado por
Galerias, Museus e coleções particulares.
Um de seus quadros que muito se
destacou foi “A Volta dos Bandeirantes”, obra de grandes dimensões, executada para
o Museu de Armas Ferreira da Cunha, em Petrópolis. Uma verdadeira obra-prima.
Exerceu uma profissão em paralelo à
atividade artística. Formou-se dentista em 1937 pela Faculdade Nacional de
Odontologia da Universidade do Brasil. Exercendo tal profissão, trabalhou para
o Exército Brasileiro e soube muito bem dividir sua atividade profissional com
sua arte sem conflitos. Foi requisitado em 1957 para compor o quadro de
dentista do recém-inaugurado Posto Médico da Praia Vermelha, atual Policlínica
Militar da Praia Vermelha.
Mereceu da Diretoria Geral do Exército
o Conceito de Cirurgião Dentista, Dr. Alcides Gomes da Cruz.
Foi condecorado em 1955, com a Medalha
Marechal Hermes, em Bronze, assim como na pintura, recebeu inúmeros elogios
pelo seu desempenho e dedicação, sendo muitos deles anotados nos Boletins de
Alteração e que dignificavam a corporação.
Sua esposa Maria Apparecida Louzada,
foi grande admiradora e incentivadora de sua arte. Muito do sucesso do artista
deve-se à dedicação da Esposa.
Tiveram 2 filhos: Mario, o mais velho,
e Marina, que embora não herdassem o dom para a pintura, souberam valorizar as
obras de seu falecido e tão estimado pai.
Apparecida deixou que a arte fizesse
parte quase integral da vida de Alcides, cuidando da casa e dos filhos.
Após sua morte, Maria Louzada foi quem
salvaguardou grande parte do acervo e também promoveu, através de seu talento
de poetisa, as memórias de Alcides.
Alcides fez muitos amigos, é uma lista
imensa, mas como ele não esquecia de nenhum, também não podemos deixar de
menciona-los. São eles:
Ari Duarte, Arlindo Mesquita, Armando
Pacheco, Armando Viana, Bustamante Sá, Cadmo Fausto, Carollo, Casimiro Botelho,
Celso Kelly, Eurico Alves, Furtado, Guttman Bicho, Haydéia Santiago, Helio
Seelenger, Hilda Compofiorito, Huergo, Iberê e Irenita Abreu Martins, Levino
Fânzeres, Manuel Constantino, Manuel Faria, Manuel Madruga, Manuel Santiago,
Miguel Moura, Milton Dacosta, Orlando Teruz, Oswaldo Teixeira, Paschoal Carlos
Magno, Ponciano, Raul Deveza, Sansão Pereira, Silvio Pinto, Trinas Fox,
Venturelli Sobrinho, Vicente Leite, entre outros.
Recebeu todas as premiações nos Salões
Oficiais e medalhas de bronze, ouro e prata nos Salões Nacionais de Belas Artes,
além de ter sido agraciado com o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro em 1970, por
meio do qual teve oportunidade de frequentar os principais museus de Portugal,
Espanha, França, Inglaterra, Holanda e Itália.
Na Espanha, cursou a Escola Superior
de Belas Artes San Fernando, em Madri. Em fevereiro de 1973, inaugurou uma
exposição individual na Casa do Brasil e mereceu a crítica: “Un gran pintor
brasileño expone en Madrid”
Morou
em Paris no Quartier Latin, Boulevard Saint Michel. De Paris, rumou para Londres onde realizou
uma individual na Embaixada do Brasil, a quem doou o quadro “Ezequiel” de
Aleijadinho.
Em Roma ingressou por concurso na
Academia di Belle Arti di Roma.
Participou de diversas coletivas como
a de Michigam, onde recebeu diploma do “Teen Age Exchange Program”. Alcides não
se absteve de prestigiar qualquer mostra que fosse convidado.
Realizou exposições individuais no
Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, em Museus da Bahia e de Minas Gerais,
assim como em galerias particulares.
Foi muito marcante sua atuação junto
ao Salão Militar de Belas Artes, onde conquistou todas as premiações e o grande
Prêmio medalha de ouro com o quadro “Garimpeiro”. Participou também como membro
do Júri. O Clube Militar mantém como um dos prêmios em seu Salão Anual de Artes
Plásticas a medalha Alcides Cruz.
Em 1986, frequentava o ateliê de
modelo vivo na Sociedade Brasileira de Belas Artes e surgem daí diversas telas
trazendo corpos desnudos e sensuais, dotados de uma encenação mais postural do
que propriamente erótica, resultado da observação atenta quase de um
naturalista.
Sua última fase foi o “New Look”. Com
novos figurativos, Alcides resgatou a caricata malandragem dos costumes
espontâneos e pervertidos, definida por uma releitura do passado traduzida em
hábitos cotidianos da época como o top less, o negro e a loura e a vida
noturna.
É possível perceber que apesar da distância
do tempo, sua arte está viva e bem atualizada, onde ainda presenciamos os
mesmos barbudos, cabeludos, boêmios nos happy hours do centro, da lapa, e em
todos os bares da cidade.
Alcides faleceu em plena produção
artística, com complicações agravadas pela diabetes, doença que o acompanhou
por toda a vida.
Atendendo sua última vontade, a
família conduziu seus restos mortais ao cemitério de Cavaru, da família Gomes
da Cruz, no distrito de Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro.
Muito se tem a dizer sobre a vida e arte
deste extraordinário pintor, que não se deteve a um único tema e nos deixou uma
mensagem de total liberdade de criação.
Assim foi, é, e será sempre! Alcides
Cruz.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alcides_Cruz